O que é?
O autismo ou Perturbação do Espectro do Autismo é uma perturbação do neurodesenvolvimento caracterizada por alterações na comunicação e interação social e padrões restritivos de comportamento, interesses ou atividades. Em Portugal, estima-se uma prevalência em idade escolar de uma em cada 1000 crianças. É cerca de 4 vezes mais frequente no sexo masculino.
Quais são as causas?
As suas causas ainda não se conhecem completamente. Parece resultar da combinação de fatores genéticos e ambientais. Não foi encontrada nenhuma correlação com intolerâncias
alimentares ou uso de vacinas.
Quais são os sinais e sintomas?
Os principais sinais e sintomas são muitas vezes identificados pelos pais ou pelos educadores/professores. São diferentes de criança para criança e vão-se modificando com a idade, daí a designação de “espectro”.
São sinais de alerta:
- dificuldade em iniciar ou manter o contacto ocular;
- não responder ao nome (parece que não ouve bem);
- pouco interesse nos outros (preferência a brincar e estar só) ou interação desadequada por ser excessivamente amigável (nas crianças mais velhas);
- não apontar para mostrar necessidade/interesse (pode aparentar muita autonomia, não pede ajuda ou pega na mão dos pais e coloca no que quer);
- atraso de linguagem (poucas palavras/frases para a idade, repetição imediata ou diferida do que ouve – ecolalia – ex.: “falas” de desenhos animados)
- comunicação desajustada/centrada em tópicos específicos (com discurso repetitivo, desviante, desadequado ao contexto);
- alterações sensoriais:
- hipersensibilidade ao som (ex.: secador, aspirador, triturador – tapar os ouvidos ou fugir destes);
- hiposensibilidade à dor (não faz “queixinhas” quando se magoa);
- dificuldade/preferência em comer determinados alimentos pela textura/cor (sopa passada, alimentos crocantes);
- dificuldade em aceitar mudanças (alteração da rotinas diária, ex.: trajeto para escola);
- interesse obsessivo por determinados objetos/partes do mesmos (ex.: rodas dos carros, brinquedos luminosos) ou temas diferentes (dinossauros, comboios);
- comportamentos repetitivos (ex.: alinhamentos/rodopiar objetos, abrir e fechar portas, ligar e desligar luzes);
- atividades motoras repetitivas (ex.: agitar os braços/mãos, rodopiar, balancear, andar em bicos de pés).
A regressão no desenvolvimento nos primeiros anos de vida é também sinal de alarme, nomeadamente a perda de palavras/frases ou da capacidade de interação com os outros.
Como se faz o diagnóstico?
Não existem exames ao sangue, ao cérebro ou a outros órgãos que permitam diagnosticar o autismo. O diagnóstico é exclusivamente clínico, baseado na entrevista aos pais e na avaliação do neurodesenvolvimento e do comportamento da criança. O diagnóstico deve ser realizado por profissionais experientes. Existem diferentes graus de gravidade, desde quadros clínicos muito ligeiros até formas de elevada gravidade (espetro). Cada criança é diferente e para o esclarecimento diagnóstico, podem-se justificar várias observações e avaliações ao longo do tempo. Pode ser efetuado, caso se justifique, a realização de testes genéticos para procurar identificar alterações conhecidas.
Várias outras condições podem estar também associadas ao autismo, como o atraso global de desenvolvimento, a perturbação do desenvolvimento intelectual, alteração do sono, agitação psicomotora e outras formas de comportamento disruptivo, epilepsia, entre outros.
Qual é o tratamento?
O autismo persiste ao longo de toda a vida, mas a intervenção precoce do foro psicoeducacional permite maximizar o potencial de aprendizagem e de adaptação de cada criança e melhorar o prognóstico. A intervenção deve ser individualizada com articulação entre a família, com a equipa local do Sistema Nacional de Intervenção Precoce (se idade inferior a 6 anos), com a equipa educativa escolar e com a equipa de saúde. Pode incluir apoio sistemático por terapia da fala, terapia ocupacional, psicologia ou outros profissionais. A intervenção tem por objetivos a aquisição de competências de comunicação, de socialização e de autonomia. Não existe qualquer evidência científica do benefício da utilização de regimes alimentares especiais (como a eliminação do glúten da dieta) ou administração de suplementos alimentares.
Mensagem final
Não é fácil receber o diagnóstico de autismo num filho e pensar nos desafios futuros. É muitas vezes necessário adaptar/ajustar expectativas. É uma longa viagem, onde a família têm
um papel fundamental. Mas esta família não está só, percorre o caminho com as equipas de saúde e educativas. É esta cooperação que vai permitir pequenas e grandes vitórias.
Autor: Alexandra Oliveira, Pediatra do Neurodesenvolvimento no Hospital Pediátrico - ULS Coimbra