Este site utiliza cookies para o bom funcionamento do site e para otimizar a sua experiência de navegação. Para saber mais sobre a utilização dos cookies ou como os gerir ou desativá-los neste dispositivo por favor consulte a Política de Cookies.

Perturbação de défice de atenção e hiperactividade – Informação para os pais

O que é a PDAH?

A PDAH é a perturbação neurodesenvolvimental mais comum em idade pediátrica e, de um modo simplista, caracteriza-se por uma tríada de sintomas: desatenção, hiperactividade e impulsividade. Os sintomas podem ocorrer isoladamente ou em associação, ou seja, nem todas as crianças/adolescentes têm sintomas dos três tipos.

A desatenção evidencia-se pela existência de dificuldade em manter um foco atencional de modo sustentado, desprezando estímulos acessórios. Há, na verdade, um prestar de atenção a demasiados estímulos em simultâneo, com incapacidade para desprezar os estímulos que não são relevantes. Muitas vezes leva a que haja falta de persistência nas tarefas, especialmente naquelas para as quais a criança/adolescente não está motivado.

A hiperactividade caracteriza-se pela existência de hipercinetismo ou actividade motora excessiva, frequentemente sem objectivo definido, disruptiva e inapropriada à idade e à situação. Muitas vezes a criança parece que está ‘ligada a um motor’ e pode também falar demasiado – ‘parece que nunca se cala’.

A impulsividade é a incapacidade para adiar uma acção, que geralmente é levada a cabo sem a devida antevisão das suas consequências. Traduz um desejo de recompensa imediata e uma incapacidade para adiar uma gratificação. As acções são precipitadas, não ponderadas, e não raras vezes colocam a pessoa em risco. Na prática pode traduzir-se em comportamentos tão diversos quanto atravessar a rua sem olhar ou numa inconveniência social por interrupção inadequada do interlocutor (p.e., falar na sala de aula sem a permissão do professor).

 

Naturalmente que é característica de uma infância normal e saudável alguma irrequietude, alguma impulsividade e um tempo de atenção mais curto do que o do adulto, mas nas crianças e jovens com PDAH estas características ocorrem num nível tal que comportam um prejuízo significativo do seu funcionamento.

 

É uma “moda”?

De modo algum: ao contrário do que muitas vezes é referido, a bibliografia cientificamente fundamentada reconhece que a PDAH está longe de ser uma patologia moderna, e a síndrome que actualmente designamos por PDAH tem descrições desde o século XVIII!

 

Os estudos científicos dizem-nos que a PDAH ocorre em 5 a 7% da população pediátrica, o que na prática significa que, em média, cada turma terá um a dois alunos afectados.

 

O que causa a PDAH?

Os estudos científicos dizem-nos que a PDAH é o resultado da interacção entre factores genéticos (70 a 80%) e o ambiente (20 a 30%), sendo que os factores ambientais actuam sobretudo por acção epigenética, ou seja, condicionando alterações na expressão genética, por excesso ou por defeito.

A nível genético, na grande maioria dos casos, não existe uma única alteração a condicionar a patologia, mas sim várias, cada uma com uma pequena intensidade de efeito. A sublinhar a relevância da genética temos o facto de existir uma elevada prevalência de PDAH em familiares do 1º grau. Não é raro que, na consulta, um dos pais nos diga que tinha ou tem sintomas semelhantes, descrevendo frequentemente como isso impactou negativamente a sua vida...

Muitos factores ambientais foram identificados, sendo um dos mais relevantes a prematuridade, sobretudo abaixo das 32 semanas de gestação, e o peso ao nascimento inferior a 1500g.

 

A nível bioquímico sabemos que há uma desregulação catecolaminérgica cerebral, afectando sobretudo dois neurotransmissores: a dopamina e a noradrenalina, que vão ser os alvos da terapia farmacológica.

 

Como se diagnostica a PDAH?

O diagnóstico da PDAH é clínico, feito por um médico e estabelecido com base em informação obtida de diversos contextos e fontes: pais, professores, treinadores – e, no caso dos adolescentes, por eles próprios. Muitas vezes é pedido o preenchimento de questionários, simples, que ajudam a objectivar a informação, como por exemplo os questionários de Conners.

 

Com base nesta informação, o médico vai comprovar a existência da sintomatologia bem como o impacto significativo no funcionamento da criança/adolescente nos diversos contextos em que está inserido, verificando se cumpre os critérios estabelecidos internacionalmente para o diagnóstico.

 

Só em casos muito pontuais será necessária a realização de algum exame auxiliar de diagnóstico (análise, estudo de imagem ou outro).

 

Porque devemos tratar a PDAH?

Os estudos científicos realizados ao longo de muitas décadas comprovam-nos que pessoas com PDAH não tratada têm risco aumentado de diversas patologias orgânicas – nomeadamente, obesidade e asma e, na vida adulta, de doenças cardiovasculares. Além disso, pessoas com PDAH não tratada têm, em média, mais insucesso escolar, maiores dificuldades na socialização, auto-estima mais baixa, maiores taxas de desemprego, maior risco de delinquência e de abuso de substâncias ilícitas, bem como maior risco de acidentes, o que pode levar a uma morte prematura.

 

Como se trata a PDAH?

Idealmente, o tratamento da PDAH deve ser levado a cabo por uma equipa transdisciplinar, considerando os diversos contextos onde a criança está inserida.

Os estudos científicos dizem-nos que o tratamento farmacológico é, indiscutivelmente, o mais eficaz. Estão actualmente disponíveis diversos fármacos, que são muito seguros e eficazes no controlo dos sintomas. Estes fármacos não causam dependência, que é uma questão frequentemente colocada pelos pais. Os fármacos mais eficazes pertencem ao grupo dos psicoestimulantes. O médico saberá escolher qual o mais indicado em cada caso.

O tratamento não farmacológico é menos eficaz do que o farmacológico, mas é útil na melhoria de problemas que subsistem após optimização da terapia farmacológica. Deve incluir:

educação sobre a patologia – aos pais, aos professores e aos demais agentes que interagem com a criança/adolescente;

intervenção comportamental – não apenas dirigida à criança/adolescente, mas também aos pais, ajudando-os a melhor gerirem os comportamentos, por vezes difíceis, destas crianças e jovens;

intervenção académica – dirigida às dificuldades escolares que muitas vezes ocorrem. Ainda que com níveis cognitivos normativos ou mesmo superiores, pessoas com PDAH podem ter dificuldades de aprendizagem que podem culminar em insucesso académico. O ensino formal de métodos e técnicas de estudo, nomeadamente planeamento do estudo e elaboração de resumos, bem como estratégias para a sala de aula, como a colocação nas filas da frente e longe da janela, e estratégias para a elaboração das provas de avaliação (privilegiando perguntas directas, diminuindo o número de questões colocadas em cada página do teste, por exemplo) e para a sua resolução (“se não sabes a reposta de imediato, passa à questão seguinte e no final voltas para pensar nessa pergunta”) ou mais tempo para realização das provas, tal como legalmente previsto, podem ser instrumentos determinantes do sucesso destes alunos.

 

Claro que isto só é conseguido com uma acção concertada entre médico, pais, professores, psicólogos e terapeutas que intervenham em cada situação, tendo sempre como foco a criança/adolescente com PDAH.

 

É inequívoco que o tratamento da PDAH melhora significativamente o prognóstico destas crianças/adolescentes.

 

Por quanto tempo terá de estar medicada a criança/adolescente com PDAH?

A resposta certa é que, inicialmente, não sabemos. A literatura científica indica que, em mais de metade das situações, a patologia vai persistir na vida adulta. Porém, numa percentagem relevante, os sintomas deixam de ter impacto significativo na adolescência. De um modo simplista, ante a ausência de sintomatologia e sobretudo se, com o crescimento da criança, não há necessidade de ajuste do fármaco, o médico poderá aconselhar a sua suspensão, avaliando se a sintomatologia com impacto significativo, e consequentemente com necessidade de terapia farmacológica, reaparece ou não.

 

Catarina Prior

Pediatra do Neurodesenvolvimento

Unidade de Neurodesenvolvimento do Centro Hospitalar Universitário de Santo António

Centro de Desenvolvimento Infantil do Porto

Pronunciar – Clínica Terapêutica