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A coordenação motora é a capacidade de organizar e integrar diferentes movimentos do corpo de forma eficiente, precisa e adequada às exigências da tarefa e do ambiente. Esta competência resulta da interação entre o processamento sensorial e o planeamento/práxis motor.
O seu desenvolvimento depende do sistema nervoso central, envolvendo tanto áreas corticais como subcorticais. Assim, a coordenação motora é influenciada pelo desenvolvimento inato da criança, pelas suas estruturas anatómicas e fisiológicas, bem como pelo ambiente e pelas tarefas com que interage diariamente.
Em algumas crianças, podem surgir dificuldades significativas neste domínio, resultando numa condição conhecida como Perturbação do Desenvolvimento da Coordenação (PDC).


O que é a PDC?
A PDC caracteriza-se por dificuldades na aquisição e execução de ações motoras coordenadas. Estas dificuldades traduzem-se em movimentos mais lentos e menos precisos, com impacto nas atividades da vida diária.
São as crianças frequentemente apelidadas de “trapalhonas”, “desajeitadas”, “cabeça no ar”, ou que “estão sempre a bater contra tudo”. É importante sublinhar que estas dificuldades não são explicadas por défice intelectual, problemas visuais ou condições neurológicas que afetem o movimento (como a paralisia cerebral ou as doenças neuromusculares).
O diagnóstico só é estabelecido quando as dificuldades motoras interferem significativamente na participação e no desempenho da criança em atividades familiares, sociais, escolares ou comunitárias.


Exemplos de tarefas afetadas:
- Vestir-se e despir-se.

- Comer com talheres sem se sujar.

- Brincar em jogos físicos com outras crianças.

- Utilizar a régua ou tesoura na escola.

- Participar em atividades físicas em grupo.


Muitas vezes, a escrita manual é lenta, pouco legível e trabalhosa, afetando o desempenho académico. Em adultos, a PDC pode continuar a causar impacto em tarefas quotidianas e profissionais que exigem rapidez e precisão motora.

Sinais de Alerta
Os pais e professores devem estar atentos a alguns sinais frequentes da PDC:
- Atraso na aquisição de marcos motores (sentar, gatinhar, andar).
- Dificuldade em manter o equilíbrio de pé ou ao caminhar.
- Movimentos pouco coordenados ou “desajeitados” em comparação com outras crianças da mesma idade.
- Dificuldade em usar talheres, segurar copos, construir torres ou encaixar peças simples.
- Atraso em tarefas motoras como subir escadas, pedalar, abotoar camisas, completar puzzles ou usar fechos.
- Mesmo quando aprendem uma habilidade, a execução pode ser lenta, estranha ou menos precisa que a dos pares.
- Escrita manual lenta, desorganizada ou ilegível.
- Dificuldade em copiar do quadro ou em usar régua, tesoura e compasso.
- Desempenho motor abaixo da média em desportos, jogos e aulas de Educação Física.
- Dificuldade em aprender movimentos mais complexos (andar de bicicleta, nadar, saltar à corda, aprender coreografias).
- Cansaço fácil em tarefas motoras.
- Evitar atividades físicas ou sociais que envolvem movimento (o que pode levar ao isolamento social).

Quando aparece?
Os sintomas da PDC começam nos primeiros anos de vida. Contudo, o diagnóstico não é feito antes dos 5 anos, pois há grande variabilidade normal na aquisição das habilidades motoras na primeira infância e porque o impacto vai se tornando mais evidente à medida que o grau de dificuldade e a exigência das tarefas aumentam .
Algumas crianças com PDC apresentam ainda movimentos adicionais involuntários ou movimentos espelho, considerados sinais de imaturidade neurológica, que podem apoiar o diagnóstico.


Prevalência
- A PDC afeta entre 5 e 6% das crianças entre os 5 e os 11 anos.
- É mais frequente no sexo masculino do que no feminino, com proporções de 7:1 e 2:1, respetivamente, dependendo do critério utilizado.


Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico da PDC é clínico.
- Exige uma avaliação detalhada por profissionais de saúde;
- Obriga à exclusão de outras condições médicas;
- Resulta do impacto das dificuldades motoras no dia a dia da criança.
O tratamento deve ser multidisciplinar, envolvendo áreas como Fisioterapia, Terapia Ocupacional ou Psicologia. O objetivo é melhorar a autonomia e a participação ativa da criança em casa, na escola e na comunidade.

 

Tiago Rocha

(Terapeuta Ocupacional)