O que é o Neurodesenvolvimento?
O Neurodesenvolvimento da criança define-se como um conjunto de competências através das quais a criança interage com o meio que a rodeia, numa perspetiva dinâmica, de acordo com a sua idade, o seu grau de maturação, os seus fatores biológicos intrínsecos e os estímulos provenientes do meio ambiente.
Fazem parte dessas competências a motricidade global, a motricidade fina / manipulação, as competências sensoriais (como a visão e a audição), a comunicação e a linguagem, os comportamentos, as competências cognitivas não verbais e verbais, os afetos e as emoções.
Os primeiros 5 anos de vida são um período crítico, pois é quando o cérebro humano passa pelas mudanças mais rápidas e profundas. De seguida, detalha-se as principais fases do desenvolvimento neuropsicológico da criança (e o papel preponderante dos pais / família na evolução de cada uma delas).
Entre os 0 e os 6 meses de idade:
Trata-se de uma fase de desenvolvimento sensorial e motor e do estabelecimento do vínculo afetivo com os cuidadores, essenciais para a segurança emocional e o crescimento futuro. Do ponto de vista motor, o controlo da cabeça e do tronco começam gradualmente a ser desenvolvidos. Os reflexos primitivos, como o de sucção e de preensão, são muito evidentes nos primeiros meses de vida e vão se extinguindo progressivamente. O bebé começa a seguir objetos com o olhar e responde a estímulos sonoros, demonstrando cada vez mais uma maior coordenação entre os sentidos. Em termos cognitivos e sociais, a criança reconhece vozes familiares, especialmente a dos pais, e tem uma natural atração pelo rosto / olhar. O sorriso social habitualmente aparece até aos 2 meses de idade. O contacto físico e emocional nesta fase é essencial para o desenvolvimento da confiança e da segurança do bebé e para estabelecimento de um vínculo adequado com os cuidadores.
Recomendações para os Pais:
Oferecer contacto pele com pele para reforçar o vínculo afetivo com a criança; conversar com o bebé, responder adequadamente aos sons e aos sorrisos da criança, promovendo uma comunicação precoce; usar brinquedos contrastantes (preto e branco), com estímulos para os diversos órgãos dos sentidos (ex: texturas variadas, músicas suaves). Evicção de ecrãs!
Entre os 6 e os 12 meses de idade:
Durante o segundo semestre de vida, o bebé começa a interagir mais ativamente com o meio ambiente. Nesta fase começa a sentar sozinho, rolar e (muitas vezes) a gatinhar. Algumas crianças começam a ficar em pé e a dar os primeiros passos ainda antes dos 12 meses. A criança começa a segurar objetos pequenos usando a “pinça” (polegar e indicador). Também a memória e a capacidade de resolução de problemas começam a ser desenvolvidas, começando a procurar objetos escondidos. As primeiras palavras podem surgir (ex: mamã, papá, olá…). Além disso, começa a comprernder algumas palavras e ordens simples.
Recomendações para os Pais:
Proporcionar um ambiente seguro para que o bebé explore o mundo ao seu redor, seja gatinhando ou tentando apoiar-se em pé. Incentivar o desenvolvimento da linguagem falando com o a criança e respondendo às suas tentativas de comunicação. Brincar ao esconde-esconde com objetos para estimular a permanência do objeto (perceber que objetos continuam a existir mesmo quando estão fora do seu campo visual). Evicção de ecrãs!
Entre os 12 e os 24 meses de idade:
Nesta fase, a criança torna-se mais independente e está ansiosa por explorar o meio ambiente (físico e social). O cérebro está a criar milhares de novas conexões neurais diariamente. A maioria das crianças começa a andar entre os 12 e os 18 meses de idade, enquanto as capacidades motoras finas também se continuam a desenvolver, permitindo o uso de utensílios simples, como a colher e o copo. Também a linguagem habitualmente tem uma rápida expansão nesta fase da vida da criança. Aos 2 anos, muitas crianças conseguem formar frases simples de 2 a 3 palavras. Surge o conceito de identidade e independência, e a criança começa a reconhecer-se no espelho. É uma fase em que habitualmente existem muitas birras, já que a criança ainda não tem capacidades verbais suficientes para expressar as suas emoções de forma eficaz e o limiar à frustração é habitualmente baixo.
Recomendações para os Pais:
Ler livros simples, cantar músicas que incentivem o desenvolvimento da linguagem; oferecer brinquedos que promovam a coordenação motora, como blocos de montar e puzzles simples; manter uma rotina estruturada, que proporcione segurança e previsibilidade ao dia-a-dia da criança. Reduzir ao máximo a eventual exposição a ecrãs!
Entre os 2 e os 3 anos de idade:
Nesta fase, o cérebro da criança passa por um período de intensa plasticidade neuronal, tornando-a altamente recetiva a novas aprendizagens. A criança agora consegue correr, subir escadas e começar a chutar uma bola com mais coordenação. O desenvolvimento da motricidade fina permite que comece a desenhar formas simples e a empilhar objetos com precisão. O vocabulário expande-se rapidamente, e a criança começa a compreender cada vez melhor conceitos de tempo e espaço. A imaginação ganha destaque e o brincar ao faz-de-conta torna-se uma parte essencial da sua aprendizagem. As capacidades sociais, como a partilha e o relacionamento com as outras crianças estão em desenvolvimento, mas podem ser altamente desafiadoras. É nesta idade que a maioria das crianças consegue atingir o controlo de esfíncteres, sobretudo no período diurno, ficando cada vez mais autónoma no seu dia-a-dia.
Recomendações para os Pais:
Incentivar a brincadeira ao faz-de-conta (ex: bonecos, disfarces, brinquedos que estimulem a criatividade); continuar a ler livros para ampliar o vocabulário e a compreensão de histórias; ensinar competências sociais, como a partilha, a tomada de vez, a capacidade de esperar, de forma tranquila e com exemplos práticos.
Entre os 3 e os 5 anos de idade:
Nesta altura, existe habitualmente um rápido desenvolvimento neurocognitivo da criança, que já apresenta um maior conhecimento do mundo ao seu redor e começa a resolver problemas de forma mais eficaz. É também a idade pré-escolar, com início da aprendizagem formal. As capacidades motoras estão quase refinadas: a criança corre, salta, sobe e desce escadas com facilidade. A coordenação motora fina também se desenvolve rapidamente sendo que aos 5 anos muitas crianças conseguem desenhar formas cada vez mais complexas, escrever o nome, algumas letras e números. A criança começa a fazer perguntas sobre o mundo (“porquê?”) e pode entender conceitos mais complexos, como contar e reconhecer cores e formas. As capacidades de relacionamento social são aprimoradas. Brincadeiras em grupo e a capacidade de resolver pequenos conflitos começam a emergir. As emoções são mais complexas e a criança está cada vez mais capaz no conhecimento da empatia e das regras sociais.
Recomendações para os Pais:
Encorajar a curiosidade natural da criança, respondendo calmamente às suas perguntas e oferecendo explicações simples; brincar com jogos que envolvam números, letras e cores para estimular as competências de aprendizagem pré-escolar; incentivar interações sociais, participando em brincadeiras com outras crianças e (tentando) modelar comportamentos positivos.
O neurodesenvolvimento entre os 0 e 5 anos é portanto uma caminhada fascinante e desafiadora. Entre o emergir do sorriso social, dos primeiros passos, o uso da primeiras palavras com intenção, as primeiras birras e o emergir das primeiras amizades, cada criança tem o seu ritmo, e é essencial que os pais ofereçam apoio, estimulação e um ambiente seguro para que a criança explore o mundo ao seu redor, na sociedade em que está inserida. Ao estar presente, interagir e entender as necessidades da criança em cada etapa, os pais estarão assim a promover um desenvolvimento saudável e equilibrado.
Daniel Gonçalves